Setor Educativo da 19a Bienal: Ver, Fazer e Pensar a Arte Contemporânea
A 19ª Bienal teve como tema Utopia x Realidade e contou com obras de 53 países. A equipe que trabalhou na implantação do setor educativo estudou as obras e as tendências marcantes da 19ª Bienal e formulou propostas de atividades de arte a serem desenvolvidas nas escolas com os professores e as crianças.
Para o projeto, o Setor contava, além da equipe regular, com mais 12 monitores, estudantes de arte, que foram treinados para o evento através de um curso de História da Arte, planejado e realizado por Tadeu Chiarelli.
As atividades anteriores desenvolvidas na 18º Bienal, com 25 mil crianças e jovens de São Paulo, revelaram o interesse e o prazer desta população em visitar a mostra e trabalhar sobre ela.
Os resultados do projeto junto aos professores e alunos mostraram a importância de manter e ampliar o espaço da Bienal como lugar de investigação, invenção e reflexão de novas práticas para a compreensão da arte.
Para chegar a isso, o setor educativo da 19a Bienal passou por um período de implantação.
Período de Implantação do Setor Educativo
O setor teve início no ano de 1986. Devido aos resultados positivos do projeto para a 18ª Bienal, a mesma equipe foi convidada para montar um projeto mais permanente na Bienal, com o apoio da Fundação Vitae.
O objetivo principal desse setor era propor aos professores a revisão dos programas de Educação Artística nas escolas, introduzindo um pensamento contemporâneo.
Os resultados em um ano e meio de trabalho levantaram dados sobre a situação do professor de Educação Artística; questões sobre metodologia, discussões sobre a possibilidade de mudança e de relacionar a arte contemporânea ao ensino de arte.
O projeto elaborado refletiu as conclusões da experiência anterior. As atividades foram centradas na preparação do professor, pois havia sido constatado que a criança e o jovem têm condições de pensar e compreender as manifestações contemporâneas.
Além disso, era necessário um treinamento específico para realizar o trabalho nas escolas. Optou-se por um treinamento em serviço. No mês de agosto foram realizados encontros teóricos e práticos com os monitores e, a partir de setembro, eles começaram a trabalhar nas escolas com a supervisão da equipe.
O trabalho envolvia as 12 escolas já participantes e mais 32 novas escolas. Foram feitas algumas reuniões com diretores e professores, em seguida, realizou-se um pequeno curso para os professores.
Organizaram-se duas visitas à montagem da Bienal, quando foi feito o reconhecimento do espaço do prédio através de exercícios de desenhos e registro. Os professores puderam assistir à transformação quase mágica de caixotes, embalagens, guindastes que se organizavam, em obras de arte: pinturas e várias instalações. Tiveram a oportunidade de conversar com alguns artistas internacionais e vê-los trabalhando.
Foram também realizadas discussões de textos e debates sobre as diferenças e semelhanças dos momentos moderno e contemporâneo na arte.
Após esse curso, a equipe passou a visitar as escolas junto com os monitores. A intenção das visitas era a de conhecer melhor o professor, os programas e escolas e preparar os alunos para a visita à Bienal. Tal preparação tinha um caráter de levantamento da visão de arte dos alunos e de problematização do evento Bienal. Os professores deveriam dar continuidade tanto à preparação como ao trabalho de reflexão posterior à visita à Bienal.
Nesse levantamento foram abordados quatro aspectos: as características da imagem contemporânea; os materiais e sua utilização; os possíveis conceitos em arte; e, os processos do fazer em arte.
A partir desses aspectos elaborou-se um elenco de perguntas e de sugestões para as atividades. As questões serviam de ponto de partida tanto para a discussão como para o desenvolvimento das atividades, com o objetivo de fazer emergir os conceitos das crianças sobre a arte e provocar novas maneiras de pensar e fazer.
No mês de outubro iniciou-se a visitação à Bienal. Foram elaborados quatro roteiros diferentes correspondendo às questões do levantamento. Procurou-se durante a visita relacionar aspectos trabalhados nas escolas com as obras de arte vistas na Bienal.
A orientação dada pelos monitores visava, principalmente, a que os alunos olhassem as obras e fizessem suas próprias reflexões. Os professores das escolas acompanhavam a visita.
Durante o percurso os alunos faziam registros gráficos, cujo material havia sido elaborado pela equipe para cada roteiro. Esses registros eram, no final da visita, entregues aos professores para que eles pudessem desenvolver atividades na escola após a visita. No período de dois meses foram atendidos cerca de 6.000 alunos.
Objetivos
Fazer um rápido levantamento sobre o que as crianças pensavam sobre a arte contemporânea; despertar interesse e atenção visando a uma breve preparação para a visita posterior à Bienal.
Público
Cerca de cinco turmas em cada escola, variando as séries e idades das crianças conforme a escola. No total, o trabalho abrangeu cerca de 6.000 crianças.
Proposta
Realizar atividades práticas e discussão que permitissem, simultaneamente, detectar a visão das crianças sobre a arte contemporânea e estimulá-las para uma visita ativa e reflexiva à Bienal. Os itens para discussão e atividades práticas se estruturavam em torno de quatro ordens de questões: Materiais, Conceito de contemporâneo, Conceitos sobre a arte e Processos em arte.
Estrutura
A primeira visita à escola era feita por um coordenador (membro da equipe permanente do Setor) acompanhado por dois monitores; nessa ocasião, além da atividade de levantamento com as crianças, era feito um primeiro contato com o professor de arte com o objetivo de conhecer a escola, discutir o planejamento do professor e estudar formas de incorporar um trabalho sobre arte contemporânea no trabalho regular da escola. Visitas subsequentes, à mesma escola, eram feitas pelos monitores que ficavam responsáveis pelo levantamento e atividades práticas com diversas turmas da escola. Os monitores selecionavam as questões sobre as quais iriam trabalhar, formulando atividades a partir de um roteiro básico fornecido pela coordenação do Setor Educativo.
Material
A equipe decidiu que os materiais utilizados seriam bastante simples, para ficar ao alcance de todas as escolas quando o professor fosse dar continuidade às propostas. Determinou-se, pela mesma razão, que o papel usado seria o sulfite tamanho ofício.
Processo
De maneira geral, as atividades a serem desenvolvidas deveriam proporcionar, em um único contato, que os alunos ficassem mais preparados para usufruir da visita à Bienal e, posteriormente, pudessem desenvolver trabalhos próprios. O contato com as crianças e com o professor tinha especial interesse para a equipe pois, no nosso planejamento, este era o início de um trabalho que viria a se desenvolver regularmente no ano seguinte, no sentido de aproximar o professor e os alunos da arte contemporânea.
Desta forma, o cuidado com a formulação das propostas, seleção dos materiais e a solicitação de participação dos professores durante a atividade, nos horários regulares de Educação Artística, visavam à continuidade prevista.
As propostas deveriam provocar de imediato sentimentos e reflexões sobre um tipo de arte pouco familiar para os alunos. As quatro ordens de questões, citadas no item Proposta, deveriam, portanto, ser introduzidas para a criança e, ao mesmo tempo, relacionadas com a sua experiência. Pretendia-se que as crianças pensassem em coisas nas quais ainda não haviam pensado e trabalhassem de modos que ainda não haviam trabalhado. Os conceitos implícitos nas propostas não seriam tratados teoricamente ou através de informação, mas deveriam ser vivenciados na prática pelos alunos; cada aluno podendo chegar as suas próprias conclusões.
Resultado e Propostas
Foram realizadas cinco propostas específicas de levantamento e preparação à Bienal, sendo que cada uma delas desdobrou-se em ao menos três variações (realizadas com cerca de cinco turmas em 44 escolas de São Paulo). Produziram-se aproximadamente 400 trabalhos sobre cada proposta, num total de 2.000 trabalhos. Foram selecionados, aleatoriamente, cerca de oito trabalhos de cada proposta, para serem comentados nos próximos itens.
Proposta 1 – Contemporâneo / Não-Contemporâneo
Essa proposta referia-se à questão Conceito de contemporâneo, que incluía itens para discussão tais como: As obras de arte são sempre diferentes? Podem ser parecidas? Como pode ser uma obra de arte contemporânea? E uma obra não-contemporânea?
Objetivos Refletir sobre o conceito de contemporâneo. Observar os conceitos apresentados gráfica ou verbalmente pelas crianças.
Público 12 a 15 anos, escola estadual.
Proposta Fazer um desenho que considere contemporâneo e outro que considere não-contemporâneo.
A proposta teve duas variações, dependendo da formulação dos monitores: alguns colocavam a proposta como “fazer um desenho antigo e outro contemporâneo”; outros acrescentaram mais um item que era “o desenho que as crianças achavam que nunca fariam”.
Material Nanquim, pincéis, giz pastel, crayons.
Processo Não foi dado nenhum modelo e não havia nenhuma expectativa de certo e errado. Isso ficou bastante claro para os alunos. Em muitas escolas esse aspecto provocou certa aflição nos professores que pediram às crianças para “caprichar”. Muitas crianças não sabiam o que a palavra contemporâneo queria dizer; nessas ocasiões os monitores eram orientados para tentar ouvir primeiro as especulações das crianças sobre a palavra antes de fornecer qualquer explicação.
Resultado Primeiramente serão abordados aspectos gerais observados em cerca de 50 desenhos referentes a esta proposta.
A maioria dos desenhos “não-contemporâneos” utiliza o enquadramento central e as figuras estão apoiadas na linha de terra, tem uma preocupação maior com o acabamento e é composta de desenhos comumente encontrados nas escolas, nas faixas de idade correspondentes.
Os desenhos “contemporâneos” apresentam outras características. Muitos utilizam o espaço de forma diferente: não usam a linha de terra, os objetos flutuam no espaço do papel. As figuras muitas vezes são deformadas em relação a um padrão de representação mais tradicional: são figuras fragmentadas ou vistas com suas partes deslocadas. Os desenhos são mais soltos, a forma de usar o material é mais experimental. São desenhos inusitados, diferentes dos que são vistos normalmente nas escolas. De forma geral, esses desenhos enfatizam a velocidade, a fragmentação, o desenvolvimento tecnológico e a abstração.
Ao se comparar o par de desenhos da mesma criança na maioria dos trabalhos, nota-se que no desenho “não-contemporâneo” há uma segurança maior no desenhar e também o aparecimento frequente de estereótipos; o desenho “contemporâneo” é mais arriscado, aparecem mais experiências, novas formas de usar o material.
Embora o conceito de contemporâneo não seja muito claro quando verbalizado pela maioria das crianças, nos desenhos elas expressam um entendimento grande de aspectos que caracterizam o tempo atual e a percepção de diferentes possibilidades formais.
Nas ilustrações vemos exemplos do que foi dito anteriormente (crianças de sexta série, escolas municipal e estadual):
Ilustrações 1 e 2: oposição entre figura e abstração, entre pouca cor e diversidade de cor, entre espaço estruturado e fragmentado, ordem estabelecida e nova ordem. Na ilustração 2 ficam extremamente evidentes duas concepções de arte: uma que representa o real e outra que rompe com esse princípio, onde o desenho é um desenho – forma e cores.
Ilustrações 3 a 5: o que mais chama a atenção é a percepção de uma outra representação do corpo que lembra as concepções dos artistas modernos e contemporâneos no que se refere à figuração.
Ilustração 6: a representação do sistema solar e a possibilidade de observar de perto um novo corpo celeste, talvez um quasar; o primeiro desenho é um desenho linear; no segundo, o material é usado de uma forma mais livre, a pesquisa é maior, lembrando velocidade e movimento.
Ilustração 7: a estrutura é linear, refere-se à narração no cinema em oposição à imagem única, técnica, que se apoia na cor. Talvez a criança esteja evocando a possibilidade real da conquista do espaço sideral ou talvez, isso se deva à sua convivência com os efeitos especiais do cinema. Qualquer que seja a razão, essa ilustração sugere a percepção da criança do fim da era mecânica e o surgimento de um outro tempo caracterizado pela eletrônica.
Proposta 2 – Xerox
Essa proposta referia-se à questão Processos de arte, que incluía itens para discussão tais como: Do que uma pessoa precisa para fazer arte? O que vem primeiro: a ideia, o material, os objetos ou a imagem? Se você tivesse feito esta obra, como teria feito? Como você a terminaria?
Objetivos Refletir sobre o processo do fazer de artistas; experimentar e refletir sobre seu próprio processo de criação.
Público 13 a 15 anos, escolas municipal e estadual.
Proposta A partir do xerox da obra de um artista presente na Bienal, interferir, modificar, transformar, usando os materiais disponíveis. A proposta teve as seguintes variações: a partir de um fragmento de xerox de uma obra, continuar o trabalho de sua maneira; a partir de um xerox de uma instalação, transformar o espaço.
Material Xerox de uma obra, giz pastel, tesoura, cola, papéis variados.
Processo Trabalhar sobre o xerox de uma obra, em especial quando se tratava de uma instalação, foi um procedimento pouco usual para as crianças; queriam saber o que era a obra, quem era o artista, e se eles a veriam na Bienal. Os monitores que realizaram essa proposta mostravam diversos catálogos de artistas para os alunos e conversavam sobre as obras.
Resultado Primeiramente serão abordados aspectos gerais observados em cerca de 50 desenhos referentes à proposta.
Provavelmente em virtude do preto do xerox, há grande utilização de cores fortes, esfumaçados e transparências, feitos de forma bastante experimental e pouco convencional.
Muitos trabalhos seguem a forma geral determinada pelo artista, havendo uma predominância de abstrações; alguns trabalhos mostram uma interferência somente na utilização da cor e outros apresentam soluções bastante originais, especialmente aqueles que incluem diferentes papéis.
Nas ilustrações vê-se exemplos do que foi dito:
Ilustração 1: repetição e cortes das formas usadas pelo artista; alteração do clima pela utilização da cor vermelha usada ao redor e pela colagem de papel pedra.
Ilustração 2: utilização da cor e dos papéis de embrulho para interferir.
Ilustração 3 e 4: imagem que representa o espaço é transformada no trabalho tornando-se uma representação de um ?? no plano bidimensional; vale notar o cuidadoso trabalho de cor, transparência e textura.
Ilustração 6: a alteração da obra é total devido ao uso dos papéis.
Ilustração 7: transformação do “clima” através da cor.
Ilustração 8: utilização do branco transformando completamente o espaço representado.
Ilustração 9: negação da ideia de representação de espaço através de um trabalho gráfico.
Ilustrações 10 a 13: alterações no espaço representado pelo uso de colagens, cor, repetição de formas e destruição do retângulo-base.
Essas alterações pressupõem a percepção e o entendimento da obra de referência e demonstram competência dos alunos e entendimento da proposta.
Proposta 3 – Ampliação de um rabisco
Tal proposta referia-se à questão Conceitos em arte, que incluía itens para discussão tais como: O que é preciso para se fazer arte? Toda obra de arte tem que ser feita por um artista? Alguma coisa que não é arte pode virar arte?
Objetivos Perceber o trabalho que transforma um ponto de partida em uma obra de arte. Levar o aluno a refletir sobre outras formas de arte que ainda não conhece, entendendo os processos e a intenção do artista.
Público 15 e 16 anos, escola estadual.
Proposta A partir de um rabisco em papel bem pequeno, ampliar, retrabalhar ou continuar.
Material Lápis preto para o rabisco, giz pastel e crayons.
Resultado Todos os trabalhos mostram desenhos elaborados e terminados. Observam-se grande cuidado e diversidade na utilização da cor.
Ilustrações 1 a 3: trabalhos realizados a partir de um rabisco que define uma forma; são desenhos estruturados, com forma e cor bastante definidas.
Ilustrações 4 a 7: trabalhos realizados a partir de rabiscos que não definem uma forma fechada, são desenhos em que a cor é colocada mais livremente, determinando um espaço aberto. Na ilustração 7, além deste aspecto, é interessante notar a solução de dobrar o papel, o que modifica o retângulo inicial (ilustração 8).
Essa proposta evidenciou aos alunos como qualquer elemento pode servir de ponto de partida para um trabalho de arte, demonstrando o caráter construtivo do desenho.
Proposta 4 – Tela de Nylon
Essa proposta referia-se à questão Materiais, que incluía os seguintes itens para discussão: Quais são os materiais que servem para fazer arte? É possível fazer arte com materiais que não são de arte?
Objetivos Perceber e transformar o espaço, interferindo com a tela de nylon; introduzir a ideia de um desenho de anotação, um registro.
Público Crianças de 12 e 13 anos, escolas municipais.
Proposta Dividir a classe em dois grupos. Uma metade deverá explorar as possibilidades de alteração do espaço da sala, utilizando o próprio corpo e a tela de nylon; a outra metade deverá registrar com desenhos rápidos o movimento da tela no espaço.
Material 10 metros de tela de nylon, papel sulfite, crayons coloridos.
Processo Foi proposto aos alunos que fizessem vários desenhos rápidos, anotações da observação. A atenção dos alunos foi dirigida propositalmente para a observação da tela. Esta orientação propiciou, em todas as turmas em que a proposta foi realizada, que todos os alunos desenhassem com grande envolvimento. Não foi feita nenhuma colocação por parte das crianças sobre “não saberem desenhar”. Isso chamou a atenção dos professores de classe.
A experiência de movimentar a tela no espaço, também foi rica, havendo muita exploração das possibilidades de ocupação da sala. Pelo fato da tela ser semi-transparente, os alunos podiam observar o espaço, mas com o olhar ligeiramente nublado, ficando uma impressão geral do espaço, sem incluir detalhes.
Resultado Primeiramente serão abordados aspectos gerais observados em cerca de 50 desenhos referentes a esta proposta.
Os desenhos são muito diferentes dos que são feitos normalmente na escola. É aparente o caráter de anotação, não preocupação com um resultado final, com o acabamento.
Observa-se que houve grande pesquisa das possibilidades do lápis. Na tentativa de registrar movimentos, aconteceram muitas soluções visualmente interessantes.
Os desenhos, na sua maioria, concentram-se na tela. Quando aparecem as figuras dos alunos, elas são tratadas com bastante liberdade. Muitas vezes aparecem como simples pontos de apoio da tela.
É possível que o fato de ver o espaço através da tela de nylon tenha contribuído para a formação de um outro olhar; nos desenhos, observa-se uma concentração na ocupação do espaço da folha do papel equivalendo a uma atenção à ocupação do espaço real da sala pela tela e pelo grupo de alunos; observa-se também que os desenhos prescindem de detalhes, enfocando os aspectos gerais.
Provavelmente o olhar nublado pela tela durante a experimentação provocou o surgimento de desenhos extremamente delicados que trabalham a transparência.
Ilustrações 1 a 11: mostram as soluções diferentes encontradas pelas crianças. Vale notar os pontos comentados anteriormente, a delicadeza dos desenhos, a transparência, a liberdade na solução da figura humana, a experimentação do crayon, o movimento e a percepção do espaço.
Ilustrações 12 a 13: duas sequências feitas por duas crianças de sexta série. Verifica-se a atenção na observação, a experimentação e a retomada para dar conta do movimento e da transparência.
Ilustração 14: sequência feita pela mesma criança, sexta série. Neste caso o aluno experimenta trabalhar sobre diferentes qualidades da tela e usa o material, pesquisando suas possibilidades para atingir os objetivos a que se propõe. Quando interessa a forma da tela, trabalha com o lápis em pé, quando interessa a transparência, trabalha com o lápis deitado.
Proposta 5 – Instalação com objetos
Esta proposta referia-se à questão Materiais, que incluía itens para discussão tais como: Quais são os materiais que servem para fazer arte? É possível fazer arte com materiais que não são de arte?
Objetivos Propor aos alunos a percepção da possibilidade plástica de elementos do cotidiano; à reflexão sobre as instalações e a transformação do espaço.
Público Quintas séries, escolas particular, municipal e estadual.
Proposta Organizar o espaço com o material determinado.
Material Materiais existentes na própria sala de aula (ilustrações 1 a 4) e jornais (ilustrações 5 e 6).
Processo Após a atividade, era retomada a discussão sobre as questões. Em algumas ocasiões foram feitos registros rápidos das instalações realizadas pelos alunos. Para a maioria dos alunos esta proposta foi completamente inusitada, colocando uma questão extremamente nova que provocou interessantes discussões sobre a arte.
Resultado Em todos os trabalhos percebe-se uma ordem na organização dos elementos e a valorização dos objetos nos seus aspectos visuais, tais como a forma, a cor, a textura, os tamanhos.
Ilustrações 1 e 2 (escola particular): a atividade se iniciou somente com as mochilas, mas foram sendo acrescentados outros elementos da sala, até alguns bonecos que haviam sido realizados pelas crianças. Os bonecos determinaram a partir de sua colocação uma abordagem narrativa do trabalho, embora não tenham sido desprezadas as características formais e as relações entre os elementos.
Ilustrações 3 e 4 (escola municipal): nesta escola a organização baseou-se na forma e tipo dos objetos, porém procurando organizá-los de maneiras inéditas; os cadernos retangulares formam círculos, os lápis são colocados em fita crepe e foram séries retangulares.
Ilustrações 5 e 6 (escola estadual): aqui os jornais foram organizados e reorganizados de diferentes maneiras. Chama a atenção a utilização do corpo dos próprios alunos na transformação do espaço.
Este projeto permitiu um levantamento objetivo sobre a situação do ensino de arte nas escolas e sobre a possibilidade de aproximá-lo de um pensamento mais atual e questionador.
Durante as visitas às escolas, observou-se grande receptividade dos alunos em relação às propostas do Setor. Como se pode ver pelos trabalhos discutidos acima, as manifestações das crianças e jovens revelam uma percepção e compreensão do fazer arte que vão ao encontro das concepções da arte contemporânea. A maioria dos alunos mostrou capacidade para pensar e produzir de forma não convencional. No entanto, este projeto confirmou que o crescimento na produção dos alunos depende do desenvolvimento pessoal e profissional do professor.
Durante o projeto, vários professores mostraram novas atitudes. Muitos, devido ao acompanhamento constante, sentiram-se fortalecidos frente à direção da escola e passaram a exigir melhores condições de trabalho. Outros descobriram recursos novos em si próprios, passando a acreditar mais no seu julgamento, sua capacidade de adquirir informações e no seu potencial de inventar. Essas mudanças se refletiram na sala de aula, no contato com os alunos. Algumas escolas mudaram toda sua programação de arte. Uma escola particular que conta com 26 professores de arte fez uma alteração básica no seu programa envolvendo o primário, de forma a estabelecer atividades em continuidade que considerassem em lugar privilegiado o desenvolvimento de formas individuais de expressão. Adotaram, também sistematicamente para o primário, a ideia de registros, cadernos de desenho para anotar ideias e desenhos que passaram a ser a forma de cada aluno constituir seu repertório visual.
Durante o período de funcionamento do Setor Educativo (1985 a 1987), procurou-se manter os propósitos de valorizar a experimentação e afirmar o ensino de arte como uma prática criativa. É provável que o empenho em manter esses pressupostos que tenha feito com que os professores participantes dos projetos passassem a se sentir mais capazes, mais seguros e recuperassem o prazer de ensinar e testar novas ideias.
Equipe de Monitores Participantes do Projeto
Pessoas que participaram dos projetos realizados na 19ª Bienal como monitores.
Para Público Infanto-juvenil
Carlos Augusto Keffer Franco Netto, Carlos Guilherme Alcântara Malteze, Cláudia Vendramini Reis, Cláudia Felipe Cretti, Margarete Monteiro, Maria Arlene De Almeida Moreira, Maria Stela Fortes Barbieri, Maria Valéria Pimentel dos Santos, Mariana Correia Dias, Mônica Ribeiro dos Santos Bicudo, Orlando Peverari Ferreira, Silvana Maria Nunes Costa, Thais Carezato de Oliveira
Para Público Adulto
Celso Martins Rosa, Cláudia Teixeira Marinho, Cristina Tomoko Gushiken, Doriana Maria Mason, Edna Maria Armellei Martins, Francis Melvin Lee, José Pinheiro de Quadros Filho, Luciano Santos Bortoletto Júnior, Luís Eduardo Pedrazzi, Luís Octávio Pereira Lopes de Faria e Silva, Luiz Augusto Citrangulo Assis, Marcos Alberto Pedrozo, Margarida Maria Sant’Anna de Oliveira, Maria Cristina Machado Freire, Mariade Fátima Chain Campana, Maria Gabriela Caffarena Celani, Maria Jussara Salim da Fonseca, Milene Chiovatto, Mirella Amalia Mostoni, Mirtes Cristina Marins de Oliveira, Paula de Waal Almeida Santos Magri, Renata Teixeira Nascimento de Sant’Anna e Silva, Ricardo Wagner Freire Cavalcanti, Roberto A. Goulart Lopes, Roseli Parissari, Sandra Aparecida Sivério, Sandra Maria Salem Zirlis, Silvia Martins, Vera Helena Ferreira da Silva